segunda-feira, 19 de abril de 2010
Guerra Fria - os recuos da URSS
Quando os E.U.A começaram a apoiar os talibãs para que estes combatessem os soviéticos que, nos anos 70/80, ocupavam o Afeganistão e outros países satélite, a URSS tinha a obrigação de lutar para defender os seus territórios e as suas populações. No entanto, essa luta obrigava a que mais de metade do PIB russo fosse para sustento da guerra. Após algum tempo, o povo soviético desmoralizou, recuando e fazendo com que os EUA se considerassem vencedores. Não será correcto dizer, portanto, que houve um vencedor concreto. No fundo, o fim da guerra fria foi marcado pelo recuo da URSS e, consequentemente, pelo falhanço do modelo soviético - não pelo modelo em si, mas pela forma como foi manobrado.
Os recuos da URSS começam quando Gorbachev chega ao poder, defendendo que o modelo soviético precisava de reformas, maior transparência e um novo modelo económico. O admitir destas necessidades era um súbtil admitir do falhanço soviético. No entanto, Gorbachev nunca poderia afirmar abertamente que o plano russo falhara.
A nova voz da Rússia tinha outros ideais para a política mundial. Dizia-nos, inteligentemente, que as nações podem subir em conjunto ou cair em conjunto e que a única forma de evitar a queda é os políticos porem de lado os seus interesses. Dizia-nos, também, que a corrida aos armamentos levada ao extremo seria a semente de um confronto nuclear. E, por fim, diz-nos que nenhum Estado deve tentar impor o seu modelo porque cada povo deve ter a liberdade para escolher aquele que quiser. Estas ideias revelam a lucidez e a capacidade de Gorbachev de analisar o modelo soviético e admitir que este não resultara. A Rússia encontrara um homem com consciência e capacidade de diálogo.
domingo, 18 de abril de 2010
1976 - A tão esperada Constituição!
Depois da revolução
- Congelamento dos preços (Questão: o congelamento dos preços servia de combate à inflação?)
- Combate à fuga de capitais (Questão: como era feito o combate à fuga de capitais?)
- Adopção de diferentes formas de luta apoiadas na auto-gestão: organizavam-se plenários (reuniões onde os trabalhadores discutiam problemas e soluções para a empresa) e criavam-se Comissões de Trabalhadores.
- Nacionalizações - O Estado assumiu o controlo da banca e de vários sectores, afectando os monopólios e instalando uma nova economia socialista, podendo assim conceder subsídios, etc. O Estado funcionou como um Estado Providência.
Estas medidas foram acompanhadas pelas conquistas do direito à greve e da liberdade sindical por parte dos trabalhadores, que reivindicavam o salário mínimo, menos horas de trabalho, férias pagas, subsídios de alimentação e doença.
Manifestação dos Operários da Lisnave em Setembro de 1975
Clima de agitação num debate entre Álvaro Cunhal e Mário Soares
(Comunismo x Socialismo)
O Impacto da Guerra Colonial
No plano internacional, as dificuldades acrescem quando o Papa Paulo VI (na imagem) recebe alguns dirigentes do movimento da libertação, apoiando-os.
Primavera Marcelista
- Tornou possível o regresso dos politicamente moderados a Portugal ( Mário Soares, Bispo do Porto, etc).
- Moderou os poderes da PIDE, que passava agora a ser a DGS (Direcção Geral de Segurança)
- No plano colonial, encontrou diferentes justificações para a continuação da Guerra, substituindo o cumprimento da "missão histórica" idealizada por Salazar pela necessidade de defender os povos brancos em África (forma de iludir a ONU para que a Guerra Colonial não findasse).
Esta aparente abertura por Marcello Caetano trará novas etapas a Portugal.
Em 1969 são permitidas eleições. Caetano espera, do povo português, a legitimização da sua política de liberalização e o apoio na continuidade da Guerra.
Surgem dois novos candidatos de ideais democráticos: a CDE - Comissão Democrática e a ASP - Associação Socialista de Portugal. Ao ver que os novos partidos pederiam alterar drasticamente o país, Marcello Caetano faz parar a corrida das eleições. Tudo passou a ser novamente controlado e alguns candidatos foram agredidos pela polícia. No fundo, as eleições não foram livres porque o medo que a oposição saísse vencedora era demasiado grande.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Depois de Ialta, Potsdam
A 2 de Agosto de 1945, a Alemanha vê-se com o seguinte futuro pela frente:
- Perda provisória da soberania. A Alemanha será dividida em quatro áreas de ocupação, onde os países vencedores vão exercer a autoridade.
- A cidade de Berlim será dividida em quatro áreas de administração, igualmente entregue aos países vencedores
- Estabelecimento da quantia de 20 000 milhões de dólares como base das reparações de guerra a pagar.
- Julgamento dos criminosos de Guerra
- Desarmamento e desmilitarização de toda a Alemanha
- Supressão do Partido Nacional-Socialista e de todas as instituições nazis
- Iniciação à vida política de base democrática
- Eliminação das doutrinas nazis nas escolas
Ao contrário da Conferência de Ialta, Potsdam decorreu repleta de tensões que levaram muito tempo a desvanecer. Em vez de unidos, os Aliados mais se afastaram, dividindo o mundo, como veremos mais à frente.
Depois da Guerra
Os Aliados mostram-se então, preparados para se debruçarem sobre o mapa geopolítico e definirem o futuro das nações. De 4 a 11 de Fevereiro de 1945, reunem-se em Ialta os três grandes representantes dos países vencedores: Roosevelt, dos E.U.A; Estaline, da URSS; e Churchill, político de Inglaterra. De conferência de Ialta surgem as seguintes conclusões:
- Quanto à organização Mundial, convoca-se para Abril uma Conferência de organização e criação das Nações Unidas;
- Quanto à Europa Libertada, pretende-se reconstruir todas as economias abolindo todos os vestígios fascistas e instituindo entidades democráticas de acordo com a vontade dos povos
- Quanto ao desmembramento da Alemanha, retira-se-lhe toda a autonomia, sendo esta entregue aos três principais Aliados (Inglaterra, EUA e URSS) e à República Francesa
- Quanto às reparações, estimam-se as indemnizações que a Alemanha terá que pagar aos países vencedores, principalmente os que suportaram maiores dificuldades.
A conferência de Ialta não foi o centro destas decisões apenas. Outras decisões de carácter menos público foram acordadas, nomeadamente no que toca à divisão de fronteiras consoante os interesses políticos de cada nação. É aqui que se percebe onde é que a Conferência que devia preparar a paz peca e é aqui que se percebe que o erro do primeiro pós-guerra volta a ser cometido: Os políticos decidem um novo mapa geopolítico de um momento para o outro, sem se preocuparem com as vontades dos povos.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A política das obras públicas e o condicionamento industrial
A política de obras públicas do Estado Novo foi, às palavras de João Fagundes, nada mais que uma grande fachada. Este termo atrevidamente empregue sugeria, correctamente, que as obras que Salazar fazia edificar não serviam senão para ofuscar os olhos dos estrangeiros, fazendo parecer Portugal um país muito moderno e sofisticado, em vez de promoverem melhorias nas condições de vida dos portugueses que, inevitavelmente, se mantinham iguais.
A grande falha do Estado Novo residiu também na falta de aposta na indústria. Talvez os dias de hoje fossem melhores se o nosso "Esteves" tivesse dado alguma hipótese ao desenvolvimento industrial. Em 1933, Salazar discursou no I Congresso da Indústria Portuguesa e deixou bem claro, através das suas palavras meticulosamente meditadas, que não trabalhava para o desenvolvimento mas sim para a subsistência. Dizia concretamente que pretendia "apenas criar as condições indispensáveis à produção portuguesa". Chegou mais longe ainda, impedindo as indústrias de avançar sem a autorização do Estado e apenas as pequenas indústrias eram aceites, de modo a evitar grandes associações entre trabalhadores.
Este condicionamento industrial deixou-nos para trás na corrida das nações. Hoje, somos, literalmente, a cauda da Europa.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
A Peculiar Ditadura de Salazar
Chega-se, muitas vezes, em conversas informais, a dizer que o regime do Estado Novo não era fascismo ou ditadura, em comparação com os aparatos vividos em Itália ou na Alemanha. Esta comum concepção está errada e deve ser corrigida, para que os portugueses compreendam a realidade. É necessário averiguar os factos com precisão.
Viveu então Portugal tantos anos de fascismo? Sem dúvida. A dúvida interpõe-se quando comparamos António de Oliveira Salazar a outros ditadores cujos objectivos ou vivências eram totalmente diferentes. Ao passo que um Hitler, da Alemanha, vivia num desejo tremendo de vingança, violência e, principalmente, da afirmação de uma raça superior (a raça ariana), Salazar, um intimista e religioso, pretendia apenas afastar os modernismos e fazer o povo português viver num conservadorismo extremo e de um modo colectivo (típico dos autoritarismos), ofuscando todos os conceitos envolvidos nas liberdades individuais. Entendemos facilmente que há diferenças entre os dois ditadores e que o Salazarismo se aproximou muito mais do fascismo Italiano do que do nazismo. Mesmo assim, entre as ditaduras de Portugal e Itália havia uma diferença crucial: enquanto Salazar promovia no povo português o culto a Deus, Mussolini afirmava-se como o próprio Deus, como um ser superior de uma importância acima da média, posição que Salazar jamais ocuparia. Também a sua postura mais intimista contrastava com o militarismo que Hitler e Mussolini transbordavam.
O importante a reter é que, apesar de ser um género de ditadura diferente, o que Portugal viveu não deixou de ser uma ditadura. Todos os mecanismos de propaganda, censura, repressão, enquadramento das massas, concentração de poderes, etc, funcionaram como num verdadeiro regime autoritário. Estes factos devem ter sido em conta, para que nada se repita.