A necessidade de recuperar as obras públicas advinha de três factores anteriores aos anos 30: o falhanço da república, a primeira guerra mundial e a crise de 29. Estando Portugal numa grave situação financeira e de desemprego, e sendo Salazar um desapoiante assumido da indústria, a sua aposta viria a cair sobre as obras públicas. Criaria, assim, novos postos de trabalho que, embora precários (eram empregos de mão-de-obra desqualificada e de curta duração), viriam a trazer novas receitas para o Estado. Além disso, iniciaria o seu processo de satisfação da auto-suficiência e de conquista do povo português, ao mostrar-lhes tão significativos e modernos resultados.
A política de obras públicas do Estado Novo foi, às palavras de João Fagundes, nada mais que uma grande fachada. Este termo atrevidamente empregue sugeria, correctamente, que as obras que Salazar fazia edificar não serviam senão para ofuscar os olhos dos estrangeiros, fazendo parecer Portugal um país muito moderno e sofisticado, em vez de promoverem melhorias nas condições de vida dos portugueses que, inevitavelmente, se mantinham iguais.
A grande falha do Estado Novo residiu também na falta de aposta na indústria. Talvez os dias de hoje fossem melhores se o nosso "Esteves" tivesse dado alguma hipótese ao desenvolvimento industrial. Em 1933, Salazar discursou no I Congresso da Indústria Portuguesa e deixou bem claro, através das suas palavras meticulosamente meditadas, que não trabalhava para o desenvolvimento mas sim para a subsistência. Dizia concretamente que pretendia "apenas criar as condições indispensáveis à produção portuguesa". Chegou mais longe ainda, impedindo as indústrias de avançar sem a autorização do Estado e apenas as pequenas indústrias eram aceites, de modo a evitar grandes associações entre trabalhadores.
Este condicionamento industrial deixou-nos para trás na corrida das nações. Hoje, somos, literalmente, a cauda da Europa.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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