A necessidade de recuperar as obras públicas advinha de três factores anteriores aos anos 30: o falhanço da república, a primeira guerra mundial e a crise de 29. Estando Portugal numa grave situação financeira e de desemprego, e sendo Salazar um desapoiante assumido da indústria, a sua aposta viria a cair sobre as obras públicas. Criaria, assim, novos postos de trabalho que, embora precários (eram empregos de mão-de-obra desqualificada e de curta duração), viriam a trazer novas receitas para o Estado. Além disso, iniciaria o seu processo de satisfação da auto-suficiência e de conquista do povo português, ao mostrar-lhes tão significativos e modernos resultados.
A política de obras públicas do Estado Novo foi, às palavras de João Fagundes, nada mais que uma grande fachada. Este termo atrevidamente empregue sugeria, correctamente, que as obras que Salazar fazia edificar não serviam senão para ofuscar os olhos dos estrangeiros, fazendo parecer Portugal um país muito moderno e sofisticado, em vez de promoverem melhorias nas condições de vida dos portugueses que, inevitavelmente, se mantinham iguais.
A grande falha do Estado Novo residiu também na falta de aposta na indústria. Talvez os dias de hoje fossem melhores se o nosso "Esteves" tivesse dado alguma hipótese ao desenvolvimento industrial. Em 1933, Salazar discursou no I Congresso da Indústria Portuguesa e deixou bem claro, através das suas palavras meticulosamente meditadas, que não trabalhava para o desenvolvimento mas sim para a subsistência. Dizia concretamente que pretendia "apenas criar as condições indispensáveis à produção portuguesa". Chegou mais longe ainda, impedindo as indústrias de avançar sem a autorização do Estado e apenas as pequenas indústrias eram aceites, de modo a evitar grandes associações entre trabalhadores.
Este condicionamento industrial deixou-nos para trás na corrida das nações. Hoje, somos, literalmente, a cauda da Europa.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
A Peculiar Ditadura de Salazar
Em aula falou-se das diferenças entre os autoritarismos na Europa e na desvalorização da ditadura como sendo uma verdadeira DITADURA, em Portugal, um facto que me chocou particularmente. Daí surgiu esta reflexão.
Chega-se, muitas vezes, em conversas informais, a dizer que o regime do Estado Novo não era fascismo ou ditadura, em comparação com os aparatos vividos em Itália ou na Alemanha. Esta comum concepção está errada e deve ser corrigida, para que os portugueses compreendam a realidade. É necessário averiguar os factos com precisão.
Viveu então Portugal tantos anos de fascismo? Sem dúvida. A dúvida interpõe-se quando comparamos António de Oliveira Salazar a outros ditadores cujos objectivos ou vivências eram totalmente diferentes. Ao passo que um Hitler, da Alemanha, vivia num desejo tremendo de vingança, violência e, principalmente, da afirmação de uma raça superior (a raça ariana), Salazar, um intimista e religioso, pretendia apenas afastar os modernismos e fazer o povo português viver num conservadorismo extremo e de um modo colectivo (típico dos autoritarismos), ofuscando todos os conceitos envolvidos nas liberdades individuais. Entendemos facilmente que há diferenças entre os dois ditadores e que o Salazarismo se aproximou muito mais do fascismo Italiano do que do nazismo. Mesmo assim, entre as ditaduras de Portugal e Itália havia uma diferença crucial: enquanto Salazar promovia no povo português o culto a Deus, Mussolini afirmava-se como o próprio Deus, como um ser superior de uma importância acima da média, posição que Salazar jamais ocuparia. Também a sua postura mais intimista contrastava com o militarismo que Hitler e Mussolini transbordavam.
O importante a reter é que, apesar de ser um género de ditadura diferente, o que Portugal viveu não deixou de ser uma ditadura. Todos os mecanismos de propaganda, censura, repressão, enquadramento das massas, concentração de poderes, etc, funcionaram como num verdadeiro regime autoritário. Estes factos devem ter sido em conta, para que nada se repita.
Chega-se, muitas vezes, em conversas informais, a dizer que o regime do Estado Novo não era fascismo ou ditadura, em comparação com os aparatos vividos em Itália ou na Alemanha. Esta comum concepção está errada e deve ser corrigida, para que os portugueses compreendam a realidade. É necessário averiguar os factos com precisão.
Viveu então Portugal tantos anos de fascismo? Sem dúvida. A dúvida interpõe-se quando comparamos António de Oliveira Salazar a outros ditadores cujos objectivos ou vivências eram totalmente diferentes. Ao passo que um Hitler, da Alemanha, vivia num desejo tremendo de vingança, violência e, principalmente, da afirmação de uma raça superior (a raça ariana), Salazar, um intimista e religioso, pretendia apenas afastar os modernismos e fazer o povo português viver num conservadorismo extremo e de um modo colectivo (típico dos autoritarismos), ofuscando todos os conceitos envolvidos nas liberdades individuais. Entendemos facilmente que há diferenças entre os dois ditadores e que o Salazarismo se aproximou muito mais do fascismo Italiano do que do nazismo. Mesmo assim, entre as ditaduras de Portugal e Itália havia uma diferença crucial: enquanto Salazar promovia no povo português o culto a Deus, Mussolini afirmava-se como o próprio Deus, como um ser superior de uma importância acima da média, posição que Salazar jamais ocuparia. Também a sua postura mais intimista contrastava com o militarismo que Hitler e Mussolini transbordavam.
O importante a reter é que, apesar de ser um género de ditadura diferente, o que Portugal viveu não deixou de ser uma ditadura. Todos os mecanismos de propaganda, censura, repressão, enquadramento das massas, concentração de poderes, etc, funcionaram como num verdadeiro regime autoritário. Estes factos devem ter sido em conta, para que nada se repita.
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